quarta-feira, 23 de outubro de 2013

The Wolf Man

Mesmo um homem que é puro de coração
e faz suas orações à noite
pode tornar-se um lobo quando o wolfbane floresce
e a lua de outono é brilha cheia no céu.

domingo, 20 de outubro de 2013

Duvida



Não sei se isso é um Lycan, um Kitsune obscuro, um Hollow ou sei lá q é isso, mas é foda.

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Agradecimentos especiais ao Gabriel, o eterno Arcanjo Lycan.
PS: Só fiz esse blog pra ele voltar a fazer posts no blog dele(mas falhei[eu acho]).
PS2: Visitem http://arcanjo-lycan.blogspot.com.br/, vale a pena.

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Vlw até o próximo post.

O Homem e o Jovem Lycan – Parte V

 Correndo em disparada Aslam e Aidan fogem dos aldeões que tentam acerta-los com suas armas.

 Aslam: Hei, rapaz, quatro pernas correm mais rápido que duas.

Aidan entende que Aslam o disse para se transformar em Lycan para fugirem definitivamente dali. E o rapaz assim o faz. Eis que se houve um dos aldeões gritar:
 Aldeão 01: Feras demoníacas, voltem e enfrentem a ira de Deus todo poderoso.

 Aldeão 02: Demônios. Seres como vocês que tem pactos com o Diabo devem ser destruídos.

Logo os gritos do aldeões foram ficando distantes, pois, era absurda a velocidade em que se moviam os dois Lycans. Nem mesmo os aldeões que estavam a cavalo conseguiram seguir seu ritmo.

No dia seguinte os dois já estavam chegando ao fim da floresta. La ela se encontrava com uma planície que se fosse atravessada até o outro lado eles entrariam de novo na floresta, se fossem a esquerda teriam de atravessar um rio de águas pouquíssimo agitadas e se fossem a direita teriam de atravessar um campo cheio de pedras enormes do tamanho de pequenas casas.

 Optaram por atravessar a planície. Chegando ao meio dela encontraram uma arvore enorme, então aproveitaram para descansar à sua sombra e ali começaram a discutir o ocorrido.

 Aidan: Como nos acharam?

 Aslam: Foi o javali!

 Aidan: Como assim?

 Aslam: Provavelmente os aldeões já estavam acostumados a terem algumas de sua hortas destruídas por esse velho javali e não poderia ter sido um urso que matou o javali pois mesmo já sendo primavera, os ursos que são os únicos animais que conseguiriam matar sozinhos um javali adulto ainda estão hibernando, então foi assim que nos descobriram.

 Aidan: Mas como acharam a gruta?

 Aslam: Levamos o javali ainda sangrando para a gruta e eles seguiram os rastros.

 Aidan: Merda! Eu troxe o javali quando fugimos.

 Aslam: Criança idiota! Ande me ajude a comer isso e então vamos nos limpar no rio e depois seguimos para a outra parte da floresta.

Continua

Sementes da Terra: Lobisomem


      O velho se agarrava ao garoto como se sua vida dependesse disso. Não que esta possibilidade fosse algo distante, pois seu corpo estava na mira de uma dezena de canos ansiosos por ação, mas a iniciativa de estar naquela situação partira dele próprio. Assim, valer-se da proteção oferecida pelo escudo humano era a única coisa que o mantinha vivo.
      O refém, um rapaz recém saído da adolescência, mantinha-se relativamente quieto, a despeito da lâmina afiada que resvalava a todo o momento na maciez de seu pescoço. Já o comportamento do seu algoz era o oposto. A agitação do velho remetia aos atos intempestivos, típicos da juventude, não de alguém que trazia no corpo as marcas implacáveis do tempo. Mas apesar da destemperança nos gestos, o olhar do homem parecia cultivar a experiência talhada pela curva em sua coluna. Se a loucura julgada por aqueles que empunhavam foices e facões fosse legítima, esta passava longe da concepção que o encurralado nutria em relação à própria realidade.
      A chegada do anoitecer, com seu manto negro e envolvente, absorvia lentamente a tonalidade vermelho-sangue que até então predominava na linha do horizonte. Do alto do celeiro, raptor e vítima mantinham-se alheios ao espetáculo multicolorido no céu. A atenção do velho estava voltada para a turba pronta para dilacerá-lo.
      Dentre os que caçavam o infeliz, estava o Coronel Justino. Sua visão cansada mantinha-se fixa nos contornos do maldito. Os braços rudes que seguravam o rifle, os mesmos que andavam fraquejando nos últimos tempos, não poderiam hesitar no momento mais delicado de sua vida. Aquele rapaz, cuja vida flertava com o gume afiado da lâmina, era seu maior tesouro, seu único filho e herdeiro.
      A onda de violência, que se alastrara como uma praga pela região, já havia saído de controle há tempos. Os ataques, que antes se restringiam apenas a algumas cabeças dos rebanhos locais, ou a incursões furtivas nos criadouros de porcos e aves, ganharam contornos mais sérios com a descoberta do corpo mutilado de um dos peões da Fazenda Santa Helena, um mulato robusto chamado Ezequiel. Não seria uma tarefa fácil subjugar um homem com aquele porte físico, o qual, além do mais, trabalhava armado o tempo todo.
      A cabeça do sujeito fora encontrada a alguns metros do corpo. O abdômen estava retalhado, não havia nem sinal das vísceras. Não muito longe da área, numa das margens do riacho que circunda a Santa Helena, também foram achadas, por mais incrível que possa parecer, as carcaças de um par de enormes jacarés, igualmente estripadas. As couraças foram cortadas como papel de seda. As placas, notoriamente resistentes, não foram obstáculo para a brutalidade do ataque.
      O ápice da situação se instalou com o desaparecimento das gêmeas do velho Agenor, proprietário da mercearia local. As meninas de dez anos foram levadas do quarto onde dormiam. A janela fora destruída. A única coisa que restou das crianças foi um rastro nítido de sangue. No quintal, foram encontrados os vestígios do que costumava ser o cachorro da família, um pastor alemão de bom porte, exemplar na guarda da casa.
      Embora fosse o responsável pela caçada desenfreada ao suposto culpado pelo horror espalhado na vila, o Coronel Justino não pretendia que a situação chegasse àquele ponto. Homem meticuloso e vivido, ele esperava dar um basta à violência de uma maneira mais prática e eficiente, como lhe era peculiar. No entanto, por obra das circunstâncias, ele se viu obrigado a abrir mão do cuidado usual, fato que acabara culminando naquele cerco.
      O velho na mira das armas, diferentemente da maioria esmagadora da população local, não era natural da cidadezinha. Ele não era, como se costuma dizer, “semente da terra”. Por conta disso, quando se instalou na vila, imediatamente atraiu a atenção de todos, especialmente a do homem mais influente e poderoso da região, o próprio Coronel Justino da Fazenda Sete Quedas.
      Desta forma, como não poderia deixar de ser, o fato de que as atrocidades haviam começado quase simultaneamente à chegada do forasteiro não passou despercebido pelos olhos do fazendeiro.
      Apesar de o Coronel Justino ser um homem rico e bem sucedido, detentor de um faro apurado para os negócios, ele nunca julgou a si mesmo como uma pessoa apegada aos meios materiais. Ele sempre considerou que os mistérios que envolvem a vida vão muito além do que a cegueira racional dos olhos consegue ver, ou do que os limites da mente humana conseguem compreender. Muito disso ele trouxe de berço, resultado do modo como fora criado.
      Quando criança, Justino vira o avô desbravar aquelas terras com unhas e dentes, revolvendo o matagal e dando origem ao que viria a ser o vilarejo. Naquela época, muito se ouvia sobre histórias fantásticas e descrições do impossível. Imediatamente, quando começaram os ataques, sua mente voltou no tempo e rapidamente identificou o cenário que estava diante de seus olhos. Uma besta estava novamente à solta, tantos anos depois. Um demônio, cuja própria existência era uma afronta aos propósitos estipulados pela ordem natural da criação divina, resolvera se instalar nos limites da cidade erguida com o suor da sua família.
      Mas ele sabia como combater a fera, pois já tinha presenciado a morte de uma antes. Seu avô, o velho Juscelino, tinha enfiado uma bala entre os olhos do demônio. Não era raro, mesmo tanto tempo depois, seu sono ser quebrado pela imagem que nunca mais esquecera: as órbitas amarelas e frias sendo lavadas pelo sangue negro que espirrava em todas as direções.
      No entanto, quando despertava, o Coronel Justino sabia que a justiça havia sido feito. Seu avô vingara a morte do filho, seu pai, e salvara a honra da família. O único lamento, algo que ele carregaria até o fim da vida, foi não ter podido enterrar o pai. Justino ainda era uma criança, mas entendera plenamente as palavras duras do avô: o demônio havia consumido seu pai até os ossos, não sobrara nada a ser enterrado.
      Desde então, Justino reza e deixa flores diante de um túmulo vazio, mas no fundo de sua alma ele sabe que seu pai pode ouvi-lo, afinal há muitos mistérios que envolvem a vida, algo que segue além da matéria.
      Seu avô, depois de esquartejar e queimar os restos do demônio, depositou-os nos arredores do solo sagrado do cemitério. Ele ainda se lembra bem do local, pois desde então nem uma reles erva-daninha cresceu na orla daquele círculo maldito.
      Justino herdara a alcunha de coronel, e com ela a responsabilidade sobre o povo da cidade que vira crescer. A luz do astro rei estava ao seu lado, o demônio não era invencível, ele já tinha em mente o plano para dar cabo da fera.
      Não era difícil encontrar, no interior da residência principal da fazenda, traços do material cobiçado pelos anseios do coronel, pois este estava em toda parte: nos talheres, bandejas, castiçais, objetos de decoração, moedas antigas e, até mesmo, na empunhadura da bengala de carvalho de uso pessoal do fazendeiro.
      Porém, Justino não estava interessado em nenhum daqueles utensílios. Ele buscava por algo mais emblemático, uma maneira de canalizar, em forma de simbolismo, a energia que precisava para eliminar o mal contra o qual esperava se deparar. E, ao revirar apressadamente o interior de um cofre, finalmente encontrou o que procurava. Misturado a cédulas, títulos de propriedades e outros documentos, estava um espesso cordão de prata, do qual pendia um belíssimo crucifixo.
      Pronto! Era justamente o que precisava, tal qual aprendera com seu finado avô. Ele tinha nas mãos o veículo necessário para eliminar o demônio, só faltava transformá-lo em arma e, depois disso, benzê-la nas águas sagradas da capela.
      Enquanto esperava pela encomenda: seis projéteis calibre .38, confeccionados com pouco mais de noventa gramas de prata pura e letal - o peso da cruz - a cidade fervia em níveis incontroláveis de histeria coletiva. O Coronel tinha certeza de que o demônio respondia pela figura do estranho. Mas ele não contava que esta mesma percepção fosse absorvida por outros na vila, e, pior, que a convicção crescesse e se espalhasse num devastador efeito dominó. O povo só não fazia justiça com as próprias mãos por respeito ao fazendeiro, que pedira, numa ordem velada, que ninguém invadisse o casebre no alto da colina.
      No entanto, num desses infortúnios que mais parecem uma conspiração maquiavelicamente manipulada pelo destino, justamente no dia em que o pacote com a munição chegara, o Coronel se viu obrigado a mudar de estratégia.
      Originalmente, ele planejava um embate restrito e definitivo com o demônio ainda naquela noite. Mas, como se pudesse antever a ação do seu adversário, o velho invadiu sorrateiramente a Sete Quedas, tomando o filho do fazendeiro como refém. Não que fosse essa a intenção do forasteiro, talvez ele tramasse uma incursão silenciosa na fazenda, mas fora descoberto ao acaso por um dos funcionários, enquanto deixava a casa principal com o garoto desacordado nos braços.
      Ao perceber o alarme, o velho tentou fugir, mas fora impedido pelos peões. Sem alternativas, ele se refugiou no alto do celeiro, mantendo o garoto, que naquela altura já estava consciente, sob seu jugo.
      A notícia rapidamente se espalhou. O Coronel já não tinha mais qualquer controle sobre a situação. Praticamente toda a cidade se aglomerava nas cercanias da fazenda. Mãos furiosas erguiam foices, facas, ancinhos, enxadas, além de garruchas, espingardas e toda sorte de armas.
      Justino tentava manter a postura austera, mas era impossível não pensar que a história poderia se repetir. Seu avô perdera o filho para a fera, agora, ele próprio se via diante desta possibilidade. Faltava o velho mostrar sua verdadeira face, mas o sopro de vida do dia intimidava, com sua luz, o caminhar de qualquer espécie de demônio.
      Através de gritos e gestos, o Coronel tentava empurrar a turba para trás. A vida de seu filho dependia de um mínimo de organização, delimitar um perímetro era imprescindível. Com muito custo e ameaças, os homens de confiança do fazendeiro conseguiram isolar a multidão. Apenas dez homens, além do próprio Coronel, permaneceram diante do celeiro.
      Do telhado, o velho vislumbrava o mar de gente que o ameaçava. Seu punho cerrado apertava a lâmina contra a garganta do rapaz. Justino tentava manter o rifle posicionado corretamente, qualquer erro poderia significar uma tragédia. O revólver em sua cintura trazia a prata recém abençoada, mas ele não poderia desperdiçá-la naquela distância. Era preciso ter o demônio ao alcance, como fizera ser avô, a bala deveria atravessa a cabeça ou o coração do maldito.
      Justino sentia um aperto no peito por conta da sensação de impotência, algo inédito em sua vida. Mas logo em seguida foi invadido por outro sentimento, um misto de desespero e culpa. O garoto percebera o olhar lançado pelo pai e, talvez, tenha sido tocado pela força do laço que os unia, pois, imediatamente se mexeu de maneira leviana. O velho, num ato reflexo, rasgou-lhe a garganta com um só golpe, empurrando-o celeiro abaixo. Telhas voaram pelo ar. O corpo seguiu em queda livre até ser amortecido por uma bancada de ferramentas.
      O impacto não poderia ter sido pior para o herdeiro. O arco afiado de uma foice decepou-lhe um dos braços, enquanto os três dentes de um garfo de feno perfuraram-lhe mortalmente o tronco.
      O dedo de um dos capatazes não se conteve. O ato involuntário culminou numa sucessão interminável de disparos. Os gritos do Coronel misturavam-se aos estampidos.
      Enquanto corria para o celeiro acompanhado por alguns homens, Justino abria mão completamente da perseguição ao demônio, o maldito que esperasse, seu filho era o mais importante. Os homens que ficaram do lado de fora continuaram a efetuar disparos, mas nenhum deles era capaz de garantir se algum atingira o alvo.
      O velho simplesmente desaparecera na mata que ladeava a Sete Quedas. Muitos seguiram em seu encalço, mas não encontraram nenhum vestígio do homem. Naquela altura, a noite já abraçava o vilarejo e, no interior da vegetação cerrada, a escuridão conspirava a favor do fugitivo.
      Estarrecido, o povo acompanhava a dor do homem mais respeitado da cidade. Debruçado sobre o corpo sem vida do filho, Justino misturava suas lágrimas ao vermelho vivo do sangue derramado. Não havia no vocabulário uma palavra que pudesse descrever o que ele sentia. Ainda que tentasse buscar conforto na possibilidade de fornecer um repouso digno para o filho, algo que seu avô não tivera, Justino sabia que só encontraria paz de espírito quando pusesse uma bala de prata entre os olhos da besta. E, jurando para si mesmo, disse que conseguiria, ou morreria tentando.
      Os dias transcorreram amargos e frios, como não poderiam deixar de ser. Justino não conseguia apagar a imagem da descida do caixão. A lua cheia logo chegaria, e com ela, a chance da vingança.
      O revólver estava calibrado e carregado com a munição especial. Renovado pelo vigor do ódio, ele sabia que o demônio viria ao seu encontro, estava ansioso por isso. Mas desta vez seriam só os dois, um duelo definitivo, do qual apenas um deles sairia vivo.
      O brilho da lua derramava todo o seu esplendor, o momento havia chegado. A noite já não pertencia aos homens, ninguém ousava transitar pela escuridão, mesmo nas ocasiões em que o plenilúnio não se fazia presente, o que não era o caso. Justino estava só, mas não temia as ruas vazias. Um chapéu de aba larga cobria-lhe a cabeça, ele preferia a presença das trevas sobre olhos a ter de suportar o deboche do luar. Um cigarro de palha queimando no canto da boca lhe fazia companhia, ele estava vivo, e o calor do fogo servia para relembrá-lo disso.
      Durante o percurso, ele teria de atravessar algumas encruzilhadas, pontos plenos de misticismo e mau agouro, mas a fé no coração e a confiança na prata lhe davam esperança. Justino apertou com convicção a madrepérola da coronha e seguiu em frente.
      Em cada sombra, em cada esquina, a ameaça parecia se esconder. Ele sentiu o ar gelar, nuvens se arrastaram cobrindo o céu com trevas. A lua era aliada do demônio, ela ocultava sua luz para abalar a determinação do inimigo, mas nada poderia conter maior escuridão do que a própria alma daquele homem.
      Justino sabia que precisava equilibrar a balança. Seria necessário um campo com boas vibrações para repelir a essência maléfica inerente a natureza daquela criatura. Em sua mente só havia um local para isso, apressou ainda mais os passos...
      Quando chegou ao cemitério, o Coronel foi recebido por uma chuva forte e gelada. A lua cheia deveria gargalhar por trás do céu carregado. O tamborilar das gotas quebrava o silêncio sepulcral do ambiente sagrado, mas o ruído ritmado não era nada perto do som que rasgou os tímpanos do Coronel, o grito do demônio era avassalador.
      Justino ensaiou uma corrida desajeitada, as botas espirravam a lama das poças. Ele queria chegar ao túmulo do filho, a energia gerada pela união entre eles conspiraria contra o maldito.
      A urgência lhe comandava, seu coração disparava. Ele mal conseguia distinguir os contornos das lápides em meio à tempestade, mas ele sabia exatamente para onde seguir, pois os últimos dias fizeram com que decorasse aquele caminho, chegaria ao local de descanso do filho até vendado.
      O que Justino não sabia era que precisaria abrir muito bem os olhos, a fim de ter a certeza de que estes não lhe pregavam uma peça. A sepultura do filho, o local sagrado de repouso do seu único herdeiro, estava violado de forma horrenda. O conjunto armado de mármore e granito estava completamente destruído, o demônio resolvera terminar o que havia começado.
      Desolado, ele se aproximou para perscrutar a escuridão do túmulo, mas um novo uivo da besta perturbou sua concentração, fazendo com que perdesse o controle das pernas e caísse na cova aberta.
      A dor nas costelas beirava o insuportável, mas, como se sua mente estivesse em outra dimensão, ele parecia não se importar com o incômodo físico. O Coronel já havia chegado a um ponto em que julgava ser incapaz de se surpreender com o quer que fosse. No entanto, os fatos naquela cova lhe diziam que ele estava redondamente enganado, o corpo ainda estava no caixão.
      Os gritos do demônio estavam cada vez mais perto, ao passo que a chuva continuava a castigar a noite. Justino não conseguia organizar um pensamento coerente. Agindo por instinto, ele dobrou os joelhos sobre o cadáver, seu olhar raivoso buscava o céu. Suas mãos tremiam, mas mesmo assim ele conseguiu acender o isqueiro e fazer uma concha para proteger a chama branda que surgiu. A luz era necessária para que pudesse contemplar o rosto do filho no sono eterno.
      Um novo uivo rasgou a noite, mas desta vez como se estivesse a poucos metros da sepultura. Porém, o Coronel quase não o percebeu, pois o horror que estava diante de seus olhos o tirava completamente da realidade. Numa só imagem, ele viu ruir os alicerces de sua vida, de sua família.
      Justino gritou, mas não por causa da gosma esbranquiçada que lhe tocava o pescoço, e sim por conta da dor imensurável que lhe invadia o coração. Lentamente, ele virou a cabeça para cima e percebeu que o demônio estava no alto da sepultura. Uma cortina turva era formada pelo turbilhão de água e vento, nublando o foco da imagem. Mas o Coronel não precisava de nitidez, a realidade era cristalina.
      A criatura permaneceu de pé, como se apreciasse a cena no interior do túmulo. Seu olhar demoníaco era uma mancha amarelada em destaque no negrume da noite. Com um sorriso afiado de prontidão, ela não atacou. Apenas conteve-se sobre o amontoado de cascalhos. Talvez esperasse pelo primeiro ato do seu oponente, ou apenas brincasse com a presa, o fato era que nada fez, além de balançar o único braço de um lado para o outro.
      Justino queria chorar, mas as lágrimas não vinham. Aquele rosto, com os olhos arregalados em desespero, não era o do seu menino. Era duro aceitar, mas a verdade estava estampada diante de sua perplexidade. Quem jazia naquele túmulo frio era o mesmo velho que invadira sua propriedade e seqüestrara seu filho. E, a julgar pela garganta dilacerada e pelas balas de prata, ainda virgens, enfiadas na boca do morto, sua intenção era bem diferente da suposta por toda a cidade.
      O Coronel nada sabia sobre a vida daquele velho. Desconhecia completamente as andanças que o homem empreendera ao longo dos anos caçando e matando os filhos da lua. Mas, era certo que não havia ninguém naquela região com maior capacidade de interpretação do que o proprietário da Sete Quedas.
      Não foi difícil entender que o velho tentara aprisionar o demônio enquanto este ainda não ostentava o auge de seu poder, mas a ação intempestiva e ignorante do povo acabara com seus planos. A falha no elemento surpresa lhe custara a vida, a besta não fornecia uma segunda chance.
      Chumbo, aço, ferro, fogo. Qualquer um desses elementos pode ceifar a vida de um homem, mas apenas a prata é capaz de encerrar a existência de um demônio. Seu filho apenas adormecia enquanto não era chamado pelo ciclo maldito da lua cheia. A carne humana repousava, mas a essência da fera permanecia em franca vigilância. Ao perceber a chegada da mãe celeste, a besta acordou e rompeu o lacre que a escondia do mundo, liberando novamente a selvageria em forma de vingança e morte.
      Uma geração sim, outra não. Justino e seu avô, homens. Seu pai e o próprio filho, demônios. Por isso não havia corpo no túmulo do pai, o avô o poupara da verdade. Não havia necessidade de aumentar ainda mais o sofrimento, dizendo que a fera morta com um tiro de prata, a mesma que fora esquartejada, queimada e enterrada num terreno onde nem capim cresce, era alguém tão querido e amado. Uma pessoa tão especial quanto aquela por trás da casca brutal e medonha que lhe encarava na borda do túmulo.
      Justino suspirou, deixando escapar uma névoa turva da boca, era como se a vida quisesse escapar do corpo. A palma trêmula de sua mão direita buscou a cumplicidade do revólver. Bastava um único e certeiro tiro, o disparo mais difícil que teria de efetuar em toda a vida.
      O demônio emitia um rosnado rouco, um prenúncio da ansiedade em experimentar o sabor pecaminoso da carne. Justino sabia que precisaria de um movimento discreto, porém decidido, ou tudo estaria perdido.
      Por uma fração de segundo, que pareceu perdurar por uma eternidade, homem e fera trocaram olhares, pai e filho em mudo desafio. Justino puxou a arma, o indicador raspando nas ranhuras do gatilho, o demônio saltou, um estampido ecoou pela noite.
      O Coronel foi envolvido pelo abraço frio da morte, tendo como companhia o velho que um dia quisera matar. A coragem que sempre lhe acompanhara durante toda a vida simplesmente desaparecera quando mais precisava dela. No fim das contas, Justino não teve a mesma determinação do avô, a frieza para por fim na existência de um filho é algo raro.
       Com uma bala de prata enterrada no próprio cérebro, o Coronel Justino abriu mão da vida em nome de um demônio. Ambos eram sementes da terra, e cada um teria de encontrar um novo florescer.


Um conto bastante interessante que encontrei em:http://www.airmandade.net/contos/terror/67-sementes-da-terra-o-lobisomem.html, acessem o site pois é muito bom e recomendo.
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