Ele sempre foi diferente de nós. Pele pálida, cabelos castanhos, olhos azuis e gélidos.
Seu olhar era petrificante, sempre parecia que estava olhando-nos direito na alma, sempre que fazia isso ele deixava escapar um sorriso muito discreto.
Ninguém sabe como ou quando ele chegou aqui. Mas da noite pro dia, ele estava no meio de nós.
Ouvia atento a todas as conversas, mesmo que distantes, tinha excelente olfato e aqueles que ouviram sua voz diziam que era tão bela quanto a de um anjo, que ele tinha o dom das palavras.
Numa noite fria e de ventos fortes acordei de meu sono, abri a janela e o vi andando em direção a floresta, acordei meu irmão e fomos atrás do garoto, temendo que fosse atacado por um animal ou coisa pior.
Ele andava tão rápido e silencioso quanto um fantasma. Meu irmão e eu corríamos e tropeçávamos fazendo um certo barulho na escuridão da noite.
Ao sairmos da floresta nos deparamos com uma enorme colina cheia de gramas verdejantes e enormes pedras.
A criança subiu a colina e ao chegar ao topo parou e não se moveu por vários minutos.
Estufou o peito enchendo-o de ar, achamos que fosse gritar ou chorar, mas para nossa desagradável surpresa, quando ele abriu a boca um inconfundível uivo de lobo ecoou por nossos ouvidos.
Escondemo-nos atrás de uma das pedras ao ouvir o forte vento uivar em resposta e a criança ser envolta por um redemoinho de mistério.
Segundos depois o garoto olhou em nossa direção com seus olhos azuis que não eram mais gélidos, mas elétricos e aterrorizantes.
Sorriu como nunca antes e foi completamente tragado pelo redemoinho de vento e uma neblina particular ao seu redor.
Quando vento e neblina se dissiparam ele havia desaparecido, apenas suas vestes estavam lá. Aterrorizados, meu irmão e eu as agarramos e fugimos de volta pra casa, queimamos suas vestes e juramos nunca falar sobre isso em hipótese alguma.
- Hugo Antônio