quinta-feira, 2 de abril de 2020

Esturro


Noite... Escuridão... Silêncio. Um barulho! Respiração ofegante, passos rápidos... está com pressa...

De olhos abertos, já fora da cama. Outro barulho! Arranhou a parede! Agora a janela! Será que quer entrar? Candeeiro aceso e carabina na mão... Emperrada e não tem mais bala!

Silêncio... Arranhou outra parede! Uma pancada na porta... Com certeza quer entrar! Silêncio de novo... Arranhou mais uma parede! Está perto da janela do quarto e não tem tranca aí... Vai entrar!
Passos lá fora em direção à janela do quarto e passos aqui dentro em direção à porta de trás. Fugir, mas para onde? O rio? Casa dos vizinhos? Isso! Seu Borges, o velho maneta não mora longe, vou pra lá!

Entrou pela janela e enquanto corro ligeiro pela porta de trás, tomando trilha na mata que vai pra casa do Seu Borges. Estrondo e a porta da casa é arremessada na minha direção. Erra meu corpo, mas bloqueia a trilha.

Mata fechada demais... vai me pegar... voltar, ir pro rio! Só com a roupa que dormi, o candeeiro pra iluminar e a carabina emperrada... Só resta correr.

Entrou na mata, não sei oque é, mas é rápido e vai tentar me pegar no caminho. Vou pro capim alto na direção contrária, o rio não é longe, mas o caminho é traiçoeiro. Descalço tudo me fere os pés, a dor é imensa! Barulho perto, entrou no mato alto.

Pulo por um grande amontoado de galhos e folhas secas... Dor... Num pensamento rápido atiro o candeeiro sobre o amontoado e num segundo um fogaréu se forma entre mim e... Silêncio... Só o fogo crepitando... Tem algo errado aqui! Rio! Isso! Está a uns dez metros.

Ao virar para correr... dor... calor... perfurou meu pulmão esquerdo... Está difícil respirar! Uma lança? Uma vara? Dói demais! Um barulho, não sei de onde... um esturro... onça... vai me atacar. Sinto um baque sobre o corpo. A haste de madeira que me transpassou se rompe e caio de costas na margem do rio... Um peso imenso em cima de mim e um clique ao meu lado, a carabina desemperrou. Disparo imediatamente.

O tiro erra completamente, mas junto ao fogaréu ao fundo me permitem ver o agressor. Um bicho onça maneta. Com as garras da mão intacta rasga meu peito até a barriga e com as presas rasga meu pescoço. Minhas últimas palavras saem.

“Onça Borges, seu filho d...”

Outro golpe com as garras arrebenta minha mandíbula. Dor... Calor.... Não dá mais pra respirar... Dor... Calor... Noite... Escuridão... Som do fogo crepitando... Som do rio fluindo... Som do sangue escorrendo... Silêncio... Som nenhum... Mais nada... Só nada.

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